fanzine Tertuliando (On-line)

Este "blog" é a versão "on-line" da fanzine "Tertuliando", publicada pela Casa Comum das Tertúlias. Aqui serão publicados: artigos de opinião, as conclusões/reflexões das nossas actividades: tertúlias, exposições, concertos, declamação de poesia, comunidades de leitores, cursos livres, apresentação de livros, de revistas, de fanzines... Fundador e Director: Luís Norberto Lourenço. Local: Castelo Branco. Desde 5 de Outubro de 2005. ISSN: 1646-7922 (versão impressa)

sexta-feira, março 28, 2014

Poesia da poetisa tapatía Imelda Lizbeth Chávez Flores

(Sin título)


Si es posible,
roza mi piel con tus labios

Si te parece perfecto
guarda tus horas de intensa pasión
para desbordarlas conmigo

Si no tienes inconveniente
lleguemos al mejor de los momentos
con tu cuerpo como testigo.

Y si no estamos a solas
lleva grabado en tu piel
cada beso mio.


Por: Imelda Lizbeth Chávez Flores 
(Guadalajara, 1990 -    )

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quinta-feira, março 27, 2014

"Tú. Mi día", poesia de Imelda Lizbeth Chávez Flores


Tú. Mi día*

Y comienzo el día haciendo la misma pregunta de hace unos meses,¿ te veré?.
Sí. Quiero verte y hablarte tan solo un instante, cruzar las miradas,
hablar de las cosas que sentimos y que en ese lugar está prohibido decirlo.

Cuando al pasar no sientes que te observo lejano, que te sueño en mi espacio,

que deseo que no abras la puerta y dirijas hacia mi tus pasos.
Tantos pretextos para encontrarte en mi camino, para sacar de tus labios,
infinidad de palabras que ya he oído.

Y entre la multitud tus palabras son como acordes de música nueva ,

que me envuelven en bríos, alocadas, pero que vuelven mi corazón tranquilo.
Con el paso del día verte un poco es suficiente,
suficiente por el momento después te habrás ido.

Y la noche. Cómo poder describir lo que pienso en la noche, lo que siento,

lo que sueño, lo que deseo, en la noche.
Es así, deseo mirarte de nuevo y un día no muy lejano,
dejar estas líneas plasmadas en tus labios


Gracias por el espacio que me regalas, reitero un placer conocerte!



*De: Imelda Lizbeth Chávez Flores 



Nota editorial:
Imelda Lizbeth Chávez Flores, nasceu em 1990 em Guadalajara (Jalisco, México), frequenta a "Licenciatura en Educación Secundaria en la especialidad de Español", na Escuela Normal Superior de Jalisco.  
Gosta dum bom café, escutar música e cantar, fascina-a ler e escrever poemas, os seus escritores favoritos são: Jaime Sabines, Julio Cortázar, Carlos Ruíz Zafón e Mario Vargas Llosa. Um dos seus livros favoritos é "El extraño caso del Dr. Jeckyll and Mr. Hyde" de Robert Louis Stevenson.

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A Chegada


Quando um de nós tem uma ideia por mais pequena que seja de uma desgraça sorrimos, mas temos a tendência para esconder essa faceta menos nobre porque a sociedade a considera abominável. Os ardis que propomos montar às vítimas que optamos tratam-se de seres desgraçados, uns farrapos aos quais não há o mero interesse de lhe tirar o tapete. Eu integro-me nessa categoria, fui um homem que tive o mundo inteiro aos pés mas acabei por perder tudo. A Bíblia conta a minha história. Podem procurar ou chegar a uma igreja e ouvir uma lengalenga e que eu sou aquele que aguenta tudo. Meus caros senhores não sirvo de exemplo para ninguém, nem a essa “tiazinha intelectual”, a que Satanás e Deus se propuseram desferir o golpe fatal. Eu tenho pena da vida dela daqui para o futuro. O que lhe poderá acontecer se o Demónio e Deus se lembrarem de jogar ao azar com ela. Tenho-lhes ódio! Por isso vou fazer com que essa felicidade momentânea seja reduzida a cacos, como uma autêntica descoberta arqueológica seja colada aos bocadinhos com uma enorme paciência laboratorial, ou de Job, já agora.Assim acabo por ter uma enorme ternura por esta mulher que passa horas à volta dos livros, lendo documentos, reescrevendo o texto que tem em mãos para entregar ao orientador. Reconheço assim a sua enorme vontade em descobrir a sua identidade como se estivesse envolta em pó prestes a ser limpa para se dar de conta de pormenores que até então alguns arqueólogos achariam uma descoberta bombástica. Lembro-me de Sancha em pequena. Sempre atenta, sempre pronta a superar-se numa família onde 25 de Abril era assunto morto e enterrado, apenas lhe fora incutido o gosto da cartilha maternal. Ela acabaria por ser conhecida como “fascizóide”. Apesar dessa cicatriz educacional Sancha sempre foi boa aluna, porque quis esquecer quem era a sua família apesar de ter registado ao mais ínfimo pormenor tudo aquilo que lhe era dito. Ela era uma sombra na família tal como o rei que se havia de perder por amores, Sancha nunca iria singrar na vida. Sancha testou-se a si mesma para conhecer os buracos negros que haviam dentro de si para encontrar a liberdade de pensamento que nunca tivera desde criança. Martim era a faísca que a acendia, era a página arrancada do diário secreto dos seus pensamentos, com ele tudo fazia sentido!

Sancha olhava provocatoriamente para aquele homem mirando-o de alto a baixo centrando-se a partir  da zona das calças de sarja com bolsos através de olhares libidinosos ao qual a sua família morreria de vergonha. Sancha a “Provocadora” desejava ter o seu espaço próprio e esquecer a ideia de monarquia que lhe haviam incutido desde miúda. Tudo isso estava a mudar porque estava prestes a ter uma mudança de trezentos e cinquenta graus. Assim que vi pela primeira vez o seu rosto acabei por me apaixonar por ela, porque ela me recordava tudo aquilo que eu fora um dia. Rico, respeitado, casado e com filhos. Porém tudo isso mudou a partir de uma única aposta de duas “pessoas” que se detestavam e gostavam de jogar com a vida dos seres humanos, talvez porque nunca tivessem tido necessidade de fazer psicanálise, por isso, não tinham capacidade de olhar para dentro de si. Eu sou a prova disso, sou uma espécie de cobaia dessa desgraça, aquele que nasceu um dia, morreu e pereceu.

Quero preparar a vingança ao reconstruir a vida de Sancha, a partir da morte do homem que a fazia viver. Era sem dúvida um cruel destino, tirar-lhe a ideia paterna dentro dela. Mas vocês perguntar-me-ão: Mas você não terá vida? Todos me conhecem como aquele que se resignou perante as situações, sempre temente a Deus e agora estou a ver a mesma história a repetir-se. Tenho que fazer alguma coisa. Vejo Martim chegar. Está morto. Entontecido, sem saber o que fazer, posto à prova, são-lhe dadas várias senhas para que adquira um curso para novas competências, isto resume-se ao universo da morte. Esses cursos têm início a partir do momento em que eles se dão conta de que já partiram do outro mundo para este, onde eles crêem que não há outra vida para além daquela que tiveram. Esses cursos de formação tem por norma aprender a ser morto e o que fazer quando os defuntos vêm as suas campas. As questões que lhes fazem são as seguintes:

“Você não consegue adaptar-se a esta nova fase? Acredita que pode viver mais mil anos? Onde? E em que corpo? Para lhes dar essas respostas existem formadores tão famosos que vocês não iriam acreditar! Agatha Christie, Sherolk Holmes, Freud, Yung a quem Deus e o Diabo repetiram programas ao mesmo tempo sem que estes tivessem tempo para os fazer, tudo era feito em cima do joelho. Mas isso não se vai escrever aqui. Resta imaginar. Até breve. 

quarta-feira, março 26, 2014

Memórias


Procurei na Idade Média as histórias de príncipes e princesas, mas depressa descobri que a Idade Média era muito mais do que isso, era muito mais do que aquela noite dos mil anos que me tentaram um dia vender. A Idade Média está acima de tudo nos atalhos que os investigadores fazem para encontrar as pessoas que lá estão nos buracos, nos infernos, purgatórios e paraísos da manhã de ontem. Olhei então para o mar e tirei um cigarro da mala. Ando a fumar imenso. Quando vejo Titas, enervo-me bastante. Penso na forma como irei falar com ele quando o encontrar, porque me irrita aquela forma que ele tem de olhar, de que o mundo é todo dele. Sim, ele é o meu príncipe. Ele tem tudo o que me irrita. É de Esquerda, é a favor da despenalização do aborto e eu não sou, não quero aceitar a morte de um inocente. Pronto! Não aceito a morte de um pessoa que está numa cama, nem me venham com as histórias da legalização das drogas leves. Mas Titas beija bem. Consegue hipnotizar-me! Ainda me lembro de ir ver ao cinema filmes que nem se quer gostava só para o ver, sentir a sua presença. Estar sentada ao pé dele. Sabia que ele gostava de outras pessoas, que preferia a companhia dessas pessoas à minha, mas eu esquecia tudo e queria acreditar que um dia ele viria ter comigo trazer-me um ramo de flores, ou de uma outra forma mais guerreira me levaria nos seus braços e me raptaria. Estaríamos os dois a fazer amor e depois comentaríamos qualquer coisa. Olharíamos o nascer do sol e beberíamos um café pela Baixa. És tão falso, Titas. Só de me lembrar que me deixei enrolar pela tua conversa da treta, de fumar um charrinho para ter um minuto de atenção. Os homens não prestam. Mas hoje sei que me amavas e que essa era a sua forma de agir com todas as pessoas. Aquele sorriso desconcentrava-me completamente! Bastava-me vê-lo e ficar de rastos!

Não sei o que se está a passar comigo mas desde algum tempo para cá cada vez que olho para as representações de D. Sancho I vejo unicamente uma pessoa: Martim ou Titas no melhor dos casos. Lembro-me sempre dele cada vez que pego na tese, há qualquer coisa que não está a jogar bem. Bem sei que a sua morte não me deixou nada bem, acredito que por vezes nós temos a tendência para exigir, para reclamar. Fui usada por ele, ou eu usava-o para deitar fora a minha tensão que sentia na altura da Faculdade. Encontrávamo-nos no mesmo café onde agora estou, e ele falava-me de que eu era uma menina mimada, nunca olhara para a história medieval do ponto de vista dos vencidos e falava-me da história escrita por Álvaro Cunhal, descrevia-me os relatos de Fernão Lopes das lutas de 1383/1385 que eram a base do povo, das lutas, dos pormenores onde se via o princípio da descrição de um grande escritor. Apesar das nossas diferenças Titas completava-me, tinha-me dito um bruxo que, um dia, o meu grande amor decidiria mudar a minha vida, fazer uma introspecção. Ele dissera-me que nós nos completávamos mas nunca teríamos a mesma opinião. Hoje acredito nisso! A vida encarregou-me de trazer as recordações como se estivessem expostas numa bancada de um hipermercado à mão de semear. Gostava de sentir a sua pele de bebé, o seu rosto de manequim e a sua aparência de dandy. Fascinava-me o seu aspecto de revolucionário, talvez tenha esse aspecto que veja agora em Sancho I. Ele era agora o meu menino. Via-me ali com ele a falar, enquanto observava agora os namorados a falarem apaixonadamente. Arrependera-se de não ter tido um filho dele pois acreditava que ia ver renascer a cara do pai no seu filho, pois tal como diz a tradição os filhos são a continuidade dos pais. E agora estava ali a saborear recordações. Estava na Idade Média. Fixara-se na figura de um homem, porque como lhe dizia a sua amiga Muema que D. Sancho I era a cara de Martim. Sim, ele era o filho que ela não tivera dele, porque era demasiado pudica ou epistolar. Ficava-me pelos e-mails, quando no fundo tinha uma enorme vontade de o olhar e dizer que o odiava.

A última vez que nos encontramos na faculdade virei-lhe a cara, queria fazer-lhe sentir que ele não me dizia nada, mas Titas era sempre um presente para os olhos onde quer que o visse. E agora estou aqui a matar-me aos poucos! A fumar! A sentir este sabor a nicotina como se estivesse a pedir à morte ou a qualquer ser superior para me vir buscar em suaves prestações. Martim. Talvez tenha sido a tua ousadia que me fez pensar na minha vida, quando tu me disseste nesta mesa que eu queria investigar a figura de um rei apagado porque os meus pais desejavam um homem e não uma mulher! Como aquilo mexeu comigo! Agora bebia o café e aquele líquido na minha boca tinha um sabor estranho não me sabia tão bem como acontecia normalmente.Sancha sentia estranhamente que a observavam ao longe, talvez alguém que não via há muito tempo.Ao ver o mar sinto uma segurança nunca vista, um universo capaz de trazer compensações que nestas alturas as memórias fazem doer, uma espécie de caixas de mágicos onde as facas nos vão entrando na alma e isso faz parte da memória, cada parte uma mais afiada que outra. Aqui e ali a dor é una. Um dia ao falar disto a Moema senti que Sancho I e Titas são o mesmo não sei porque me deu esta ideia, mas foi como se alguém se me preparasse uma armadilha para enganar a morte de Titas. O que Titas me havia dito naquela tarde... Agora eu tinha um único pensamento, estudar Sancho I era uma forma de manter a memória de Titas/Martim vivo.

terça-feira, março 25, 2014


Temos diante de nós a nossa vítima. A primeira depois  do nosso querido e útil Job. Ali está ela! Linda de morrer. Não sabemos como é que estas criaturas se habilitam a ficarem fechadas durante tanto tempo para depois ficarem como? No desemprego? Ah! Ah! Job! Não queres uma noiva? Temos uma para ti? Olha é desempregada, está numa fase difícil! O marido parece que vai ser despedido! Ah! Ah! Vai! Anda! Toma esses comprimidos! Bichaninho! Minha linda! Morre! Nós temos que fazer pela vida! Nós aqui em cima decidimos se tu ficas ou vais!

- Olha lá e agora como é que eles pagam o funeral? – pergunta Deus num tom irónico. Essa foi de mestre! Doença! – Diz Deus brindando com um copo cheio de uma bebida parecida com cerveja.

- O marido rapa o cabelo e finge que está a fazer quimio! – responde o Diabo a rir.

- Não me digas que ele consegue enganar toda a gente?!

- Meus senhores, Posso fazer uma pergunta? – diz Job.

- Fala desde que não tenhas nenhuma ideia brilhante, para isso cá estamos cá nós! Fala! Tens meio segundo!

- Olha! Acabou! Tchau! Continua a chorar! Ainda bem que não temos por aí nenhum psicólogo, se não já viste este fulano com a estima por cima! Vai com as chamas! Meu triste!

 De súbito aquelas maquiavélicas criaturas observam o sensor do computador e reparam na imagem angelical de uma mulher. Linda. Inteligente. Trabalhadora. Tem alma. Monárquica. Mas o seu grande amor é comuna! Veste-se à moda, dir-se-ia que seria modelo, mas o discurso é antigo! Parece decalcado de um panfleto do PCP. Lindo de morrer. A questão centra-se nestas duas figuras. Tal como acontecera há milhares de anos com Job, a falsa amizade entre estes dois seres resume-se em destruir vidas. Encontram-se a beber o néctar da desgraça, uma bebida que para os seres do Além é uma espécie de cerveja. Encontram-se no “Eterna Saudade” numa hora em que não chegam mortos, para serem atendidos por uma mulher bela mas que não tem paciência para os clientes, a que eles chamam “Mulher Demónio”, ironicamente. Diante destas brincadeiras suaves de velhos inimigos dá-se o compromisso de destruírem uma relação que se resume pela diferença. E como a encontram?

- Não será pela morte? Ou a sua carreira? A sua tese de doutoramento? – Pergunta o Diabo.

- Deixo à tua escolha, meu caro!

Olharam mais uma vez no ecrã. Observaram o rosto de uma jovem mulher na casa dos trinta anos atarefada em bibliotecas com documentos e livros. Olharam ofegantes para aquela mulher de lábios carnais. Cabelo preto e olhos azuis. Não era assim que o Demónio imaginara Lilit?
E Deus não imaginara a sua nova virgem? Aquela a que pensara durante toda a eternidade transformar uma nova beleza em que os homens gostassem de ter como modelo de mulher? Virgem? Defensora da religião, detestava as conversas de Titas, mas amava-o por isso era tudo aquilo que desejara sempre num homem que contrariasse a sua família.

Não é que Deus e Demónio ouviam os seus pensamentos? Deus estava a ficar certamente decepcionado com aquela beleza moderna. Como queria enviar o sopro divino sobre ela e dizer-lhe que seria aquela a sua escolhida?

Pela obra escolhida nada disso lhe era permitido, Maria estava cada vez mais ciumenta e os famosos teólogos observavam as suas acções. Não eram bem vistas as suas saídas com o Demónio àquele bar, mas justificavam a causa da dor. A morte, a separação, essas coisas idiotas que hoje os psicólogos levam a analisar, porque não sentir o cheiro da carne a arder? Longe iam esses bons tempos em que a dúvida era quase um pecado mortal e para demonstrar esse bom acto de ser cristão ou devoto de Deus se havia de emparedar? Oh que maravilha esses tempos! Sentir os cheiros do medo e levar as pessoas a inventarem na hora vocações! Bons tempos quer para Deus, quer para o Diabo!Olharam – se e fixaram os olhos no computador e sentiram mais uma vez os olhos naquela mulher que ao fim do dia ia beber o café numa esplanada à beira mar e ouvir as ondas falarem com ela.

- O tempo -pensavam eles - é um perpétuo presente. Os escassos minutos em que Demónio e Deus se entenderam acabaram por discutir no momento em que chegavam mortos. Uns e depois outros. E cada vez mais outros. Uns piores que os outros, que o Demónio não deixou de largar uma gargalhada. Ninguém fazia ideia porque eles estavam naquele sítio para espanto de todos. Dizia-se que era o acontecimento do ano, do século, do milénio, da História Bíblica. Para vós tudo isto tem uma outra dimensão, algo que entra dentro  das nossas entranhas e que se apresenta como um choque eléctrico, foi tudo isso que Sancha sentiu naquele momento e por isso tirou da mala uma carteirinha que pouco depois viram ser cigarros. Eram aqueles os momentos de paz que Sancha tinha durante o dia. Por opção decidira viver sozinha. Algo que veio na cabeça daquelas duas “pestes”. O que magicavam nas suas cabeças não nos era acessível. Mas o que veio a seguir meus senhores, foi pura e simplesmente algo que nem o Diabo nem Deus pensaram. Job acabara por se apaixonar por Sancha e isso acabaria por tornar os planos dos nossos queridos amigos difíceis, mas isso só depende da capacidade de cada um de vós aguentar as consequências.

sábado, março 22, 2014

A recuperação do duplo através dos gémeos Willian e Wilson em "Do fundo do poço se vê a lua"


  A marca da tragédia sempre pairou na cultura judaico-cristã na qual encontramos as nossas origens e identidade.Uma das primeiras alusões é a história de Caim e Abel, que encontramos nos mitos do Antigo Egito, nomeadamente através de Seth e Osíris, nas obras "Ísis e Osíris", de Plutarco, e "Conto dos Dois Irmãos", das narrativas do Egipto faraónico.As origem da cidade de Roma deve-se a uma loba que amamentou dois irmãos gémeos que se degladiaram e mataram pelo poder. A nossa escolha pelo romance do escritor Joca Reiners Terron "Do fundo do poço se vê a lua", aborda este mesmo universo. O medo da tragédia do outro, do duplo e dos irmãos gémeos e nesse sentido a obra que pretendo analisar situa-se precisamente na busca da identidade.  Ao longo da obra de Reiners Terron somos invadidos por uma onda de curiosidade pela descoberta do ser humano e da nosso própria identidade, por isso centramo-nos na questão que colocamos desde tempos imemoriais: Quem somos nós e o que procuramos?A narrativa de Reiners Terron sobre o drama de dois gémeos é atravessada pelo medo da morte e necessidade de justificação da mudança de um corpo através do sexo, sob a ameaça de um irmão matar o outro. Acresce a este pesado universo o facto de o pai ser encenador e tudo decorrer num ambiente teatral propício a equívocos e ao uso de máscaras.Esta história traz-nos reminiscências das escritas por Plutarco que recontou as narrativas tradicionais egípcias. William tinha pavor de ser morto por Wilson, à semelhança das histórias encenadas pela companhia de teatro do pai. Como encenador, o pai procurou dissecar as narrativas sobre o poder e a submissão dos gémeos. Neste sentido toda a história do teatro centra-se no medo e na catástrofe iminente. 

Nós, porém, encontramos paralelos entre a História e a Literatura. Ao escolher um autor brasileiro tivémos que tomar em atenção uma obra centrada numa narrativa árabe e na perspectiva da realidade árabe, daí a escolha do romance "Do fundo do poço se vê a lua". 

Joca Reiners Terron nasceu em 1967 é licenciado em design industrial, mas com vasta obra na área da literatura. Os temas dos seus romances centram-se na violência, na dupla personalidade (no caso os gémeos), o terror psicológico e as relações das pessoas com os seus próprios medos e inquietações.
O romance em apreço é certamente desconhecido da maioria do público português, pois foi publicado no blog "Amores Expressos", em que, na sequência de uma viagem ao Cairo, em 2007, registava diariamente a sua opinião e os seus comentários.Este blog deu origem a uma coleção homónima da editora Companhia das Letras, na qual já publicaram 10 autores brasileiros, entre els, Joca Reiners Terron vom este romance, falatndo ainda publicar seis escritores.De Joca Reinners Terron está publicado em Portugal o livro de contos "Curva do Rio Sujo", pela editora Palavra.

A história dos dois irmãos, William e Wilson, não é só uma revisão da história do duplo, isto é dos gémeos desde a Antiguidade pré-clássica até ao século XIX, mas ao mesmo tempo em Wilson existe um pavor na morte e no crime de um dos irmãos tal como as histórias ancestrais de Caim e Abel, de Seth e Osíris, e de Rómulo e Remo. Para além dos aspectos traçados para a análise desta história, o Egipto Antigo modela a minha teoria do duplo, da morte e da transformação, como as narativas do país dos faráos entre as quais "Ísis e Osíris" de Plutarco, e do "Conto dos Dois Irmãos".

Como não há duas sem três, acrescente-se a presença de Cleópatra, não só como Rainha do Egipto, da linha dinástica dos Ptolomeus, da qual foi a última, tendo-se suicidado. Neste caso, o nome de Cleópatra tem um duplo sentido, não só como nome de código da mãe de Wilson e William durante a ditadura militar, mas como exemplo de mulher, guerreira, líder e estratéga como foi a última Rainha do Egipto Antigo.Ao morrer jovem, a mãe dos gémeos deixou uma imortal, presente nas recordações da "jovem Cleópatra", nome adoptado por Wilson quando decide mudar de sexo. 

Este é um dos pontos mais significativos do romance "Do fundo do poço se vê a lua": Quando Wilson se torna Cleópatra ao mudar de sexo, trata-se, ressalve-se, de uma transexualidade psicológica. Wilson temia morrer como nas histórias que encenava em pequeno com o seu irmão no teatro que o seu pai dirigia. Ao ler e conhecer esse género de histórias, tomou a decisão de mudar de sexo, para que não tivesse uma morte imediata, ou acabar por ser abafado pela figura do irmão. É desta forma que a narrativa se torna numa espécie de convite ao exótico, e ao Egipto atual.Wilson transformado já em Cleópatra, na figura imaginária da atriz Elisabeth Taylor, que encarnou a Rainha egípcia na 7.ª arte, numa postura de grandiosidade e na fantasia de uma mulher bela e ao mesmo tempo fascinante, mas acima de tudo na mensagem do postal que ele envia ao irmão William: "Para o visitar no Cairo e o conhecer".É aqui que se inicia toda a história, no reencontro dos dois irmãos, que é como um romance de viagens e uma justificação de todas as fugas. Não das fugas banais, mas aquelas profundas e metafóricas, relacionadas com um país, primeiro com a transfiguração através da teatralidade, e também do poder, pois na Antiguidade Egípcia, mais propriamente durante o Império Novo, recorde-se, a Rainha Hasepsut se havia travestido de homem, usando as mesmas insígnias do Faraó. Para esse papel aquela mulher apagou-se e tornou-se num homem. 

Embora aqui se trate de um contexto diferente, há uma forma de poder ligada à metáfora da libertação pelo contrário da mulher. Daquele que não se sente bem dentro de um corpo que não sente como seu, e de uma pátria na qual nunca se sentira como livre.O Egipto na atualidade mais recente esteve até a finais do século XVIII sob domínio Otomano e foi alvo da cobiça imperal francesa de Napoleão e de Londres. Que só lhe concede a independência em 1922, conhecendo a monarquia de Faud que termina na década de 1950, num golpe militar liderado por Nasser que tonmou as rédeas do poder até 1970 quando é sucedido por Sadat que foi assassinado por militares em 1981 tomando o poder Mubarak, referido pela imprensa internacional como "o faraó".É neste contexto que vamos encontrar um Egipto pobre, corrupto, onde o narrador conta as visitas a alguns locais, quase uma vigem interior/psicológica, não tocando nos assuntos, mas apenas parte das diferenças para nos fazer pensar que a literatura de viagens é uma literatura de interiorização de descoberta . 

Assim sendo este romance toca sobretudo na "desilusão do cliché", da esperança da grandiosidade de um Egipto que já não existe, mas que a tragédia não só é caracterizada no nome de uma personagem, ou de uma figura, quer seja no corpo de um homem ou de uma mulher, na simbologia do próprio país, do que esperamos de um mito, de uma lenda e de um corpo na aceção farónica em que o seu corpo era a própria instituição, o palácio que albergava a alma daquele que incarna o deus Horus. Assim todas as memórias do Egipto interior de Cleópatra estão dentro dela através das lembranças, das brincadeiras de Wilson com o irmão que trazem reminsicência da história antiga do Egito, tantas vezes cobiçado e invadido, como alguém que invade o outro, o toma como seu. 

Ao mesmo tempo podemos atribuir a esta narrativa um perfil psicológico entre a narrativa de viagens que se desalinha desde o momento em que Wilson decide mudar o seu corpo pela carga trágica que o seu duplo lhe propõe, e como toda a história entre o poder e a necessidade de viagens acarreta uma catástrofe, levando-nos até aos primórdios da viagem. É na procura dessa verdade que William procura o irmão ao receber o seu postal, do agora Cleópatra, uma mulher, e deverá reencontrar-se com o irmão/irmã; é aqui que nos inserimos mais uma vez entre uma realidade dura, onde se impõe olhar para a verdade com algum cuidado para que a tortura das recordações mais dolorosas sejam apenas ditas com apurada sensibilidade, pois estamos perante duas pessoas idênticas apenas no sentido físico e não psicológico. 

Se o psicológico está aqui patente ao longo de toda a obra, o autor evoca aqui a sua admiração e homenagem ao escritor norte-americano Edgar Allen Poe, sendo através de um conto desse autor "William/Wilson", que constrói o esqueleto deste romance. Como se ele fosse uma espécie auto-análise de Wilson para justificar o encontro dos dois irmãos e lhe explicar as razões do seu desaparecimento.

Há aqui um enquadramento típico do enredo policial como se o assassino se revelasse perante o público para explicar o assassinato. Mas esta "morte" que Wilson premeditou não é uma morte qualquer, é uma morte psicológica. Uma morte desejada, uma eutanásia simbólica que coloca todo o pensamento Ocidental na cultura dramática do teatro grego que aqui faz um apelo à viagem da Duat (a viagem dos mortos no Antigo Egito), como se tratasse de uma nova representação. Tal como na história de Seth e Osíris, o crime cometido por Seth contra Osíris termina com o corte do seu membro viril. Da mesma forma que Wilson ama e odeia o irmão William, é ele que antecipa a morte, o crime, ao anular-se a si mesmo, transformando-se no seu ídolo da juventude, da sua vontade interior e em recuperar a mãe, Cleópatra, do baú da memória e de se modelar através das roupas guardadas em casa, assim como as fotografias.

Neste romance nada é deixado ao acaso, se o nome pode parecer inicialmente um mero apetrecho técnico do contra-regra, da bilheteira para a civiliação que o autor Joca Reiners Terron, evoca a importância do nome próprio para os Antigos Egípcios. Para o Egípcio da Antiguidade, o nome era um estado de alma, uma essência do seu ser, daí que o nome tivesse muito mais que um mero travão de ideias para este Egipto Contemporâneo. Mas, o autor vai muito mais além ao escolher o nome de Cleópatra, não é só a última Rainha digna de memória que luta perante um país já na mais considerável miséria, como se de uma grande personagem teatral se tratasse, mas também porque é através dela que Jean François Champollion descobre a cartela de Cleópatra no Forte de São Julião da Roseta. Será a partir dessa pedra que se dá inicio à egiptologia científica, mas também o reencontro com as grandes mudanças das vidas dos dois irmãos. Ao retomar esse convívio entre os dois irmãos , o reencontro de uma narrativa pela posse de território, há uma resposta para a luta dos dois irmãos pelo primeiro lugar. Ora, se num deles o irmão quer acabar com o outro, determinando a morte de um deles, haverá ao longo das narrativas anteriores expressas também nos contos dos "Dois Irmãos", em que Bata e Anúbis se reanimam várias vezes através de vários reencontros, sendo abafados pela intriga da cunhada de Bata, esposa de Anúbis, que traz um sabor à narrativa de telenovela, em que a mentira sobressai para que não seja revelada a verdadeira intenção da esposa de Anúbis: o amor pelo cunhado. Esta rejeição, que está no aparato de uma encenação, que a irá livrar da verdade. A vida e a morte sucedem-se ao ritmo de um conto de ficção, morrendo Anubis sucessivas vezes, até que a cunhada de Bata engolhe um farpa que a trasnforma em criança que revelará, inocentemente, toda a verdade.

Se o sentido da morte, da vida e da transformação já abordado por Betteleim, em "A psicanálise dos contos de fadas", aqui estamos perante o desejo e o sexo, e as mortes sucessivas serão a mudança da infância para a idade adulta, e, ao mesmo tempo, da escolha do parceiro/a. Aqui o caso será outro é a relação e o amor entre dois irmãos, da sua vontade de se reencontrarem ao fim de tantos anos. 

Cabe aqui falar num país olhado não só pela grandiosidade que teve, mas pela sua própria cultura patrimonial, evocando ao mesmo tempo, aquilo que era o termo filológico da palavra faráo, peraa, "a grande casa". O palácio é na sua essência, o corpo, o espelho da alma, a representação de uma figura de Estado, e, ao mesmo tempo escolheu-se a última grande figura de Estado, sendo ela uma mulher que lutou com todas as suas forças, da mesma maneira que a mãe de William e Wilson faleceu quando ainda estes eram crianças. Mas esta mesma justificação faz um apelo à antiga KMT (terra vermelha, o Alto Egipto) e DRT (terra negra, o Baixo Egito). A terra negra e a terra vermelha, possivelmente, o feminino e o masculino. A contradição, o corte do membro viril, a auto-mutilação e a busca de si mesmo, em viver no corpo do outro.

É essa a essência da literatura e do teatro, procurar decifrar as nossas raízes e ao mesmo descodificar aquilo que está para lá das entrelinhas, assim como o nome e o título deste livro: "Do fundo do poço se vê a lua".

sábado, março 15, 2014

JARDINEIRAS À INANA

Desde o princípio dos tempos que Deus e o Demónio competem um com o outro. Desde Job que não tinham uma razão para dar uma “prá caixa”.  Tristes com a juventude decidiram arranjar uma nova vítima. Diante do visor do computador que têm na sala de reuniões do Destino que Deus (Todo Poderoso) e o Diabo (Menos Poderoso) decidem o destino de uma pessoa. Escolheram à sorte ou ao azar. Era o jogo mais antigo que ainda se divertiam a fazer. Esmagar essa pessoa que ficaria cada vez mais desgraçada. Desta vez tratou-se de uma “menina bem”. O seu nome: Sancha.

Deus e o Diabo não costumavam reparar na aparência, e apenas sabiam que ela era jovem, bonita e inteligente. Estas eram as palavras que eles definiam em primeira-mão.

Tinha que se ser simplesmente jovem, atraente e bonita. Se não se tivesse estas três qualidades o plano deles perdia-se completamente. Para completar o ramalhete faltava algo para dar sal à jogada.

Não demoraram a descobrir um jovem de boas famílias, porém subversivo, a que as conversas de Direita lhe davam volta ao estômago. Descobriram assim Martim. Era lindo de morrer, deixava qualquer mulher à banda, mas era sobretudo um “tio” diferente. Era historiador na linha de Marc Bloch, como ele próprio se definia. Era o que apelidavam “tio vermelho”.

Martim ou Titas, como era conhecido pela família, era de extremos. Revolucionário de ideias, amante de questões perturbadoras tais como a interrupção voluntária da gravidez, da eutanásia e da despenalização das drogas leves. Diziam as criadas lá de casa que o menino aos 15 anos quisera ir viajar pela Europa fora dos circuitos turísticos. No entanto, Martim parecia um daqueles modelos saídos das revistas de moda masculina, num estilo marxista com cabelo comprido e barba por fazer.

Quem o via noutros campos não sabia quem ele era. Sim, porque ele desde muito cedo se aventurara a experimentar todo o género de trabalhos.

Foi num desses trabalhos ao acaso que Martim conheceu a mulher da sua vida. A nossa querida vítima, Sancha Beirão de Vasconcelos. Ele não deixou de reconhecer aquela menina completamente irritante, cheia de aparências, com a mania das grandezas. Lembrava-se que se havia irritado com toda aquela conversa de Direita. Conversa que reconhecia da sua família. Um amigo seu dizia-lhe que estava apaixonado por ela precisamente porque tinha as características da sua família. Mas isso, ele não podia tolerar.

O que aconteceu é que nos dias seguintes ambos se encontraram na biblioteca da Faculdade.

- Desculpe, mas nós não conhecemos já?

- Desculpe? – perguntou ela.

Assim começou tudo: Martim e Sancha estariam unidos para sempre. Ambos ferviam, criticavam-se, mas amavam-se. Explodiam com as ideias um do outro, mas acabavam por se beijar.

Martim era a pessoa ideal que Deus e o Diabo necessitavam para transformar a vida da famosa historiadora num autêntico deserto. Deserto esse que dentro de si só a lembrança do seu grande amor se transformaria num oásis, queriam transformá-la num cacto cheio de espinhos que quem a quisesse exibir, fosse picado pela sua amargura. Esse era o seu objectivo a curto prazo, a necessidade de transformar aquele autêntico mar de alegria numa longa peregrinação pelo pólo Norte da tristeza e esse deserto de gelo notar-se-ia dentro de pouco tempo simplesmente com a morte de Titas. A ausência daquele que era o seu grande amor estava a um passo da sua desgraça, mas não sabiam nem os mais que tudo (Deus e o Diabo) nem os amorosos que eu estava a par de tudo e preparava-me para vingar do que me haviam feito há muito, muito tempo atrás.

Eu Job, aquele que chorou lágrimas de me ter arrependido do dia em que nasci, acabaria agora por ter a razão da minha existência. Faria a minha vingança: dividir para reinar. Eis agora o meu reino. Este seria pois o meu princípio. Estar do lado de Deus e do Diabo. Sabe-se lá do que ele é capaz!!!...

Mas eu como sou tão desgraçado acabaria por viver com duas almas tão, como direi, tão puras?

Querem saber afinal como tudo começou? Deus e o Diabo apostaram há muito tempo na minha vida, mas eu acabei por me tornar uma espécie de escravo! Ai de mim! Que sou tão desgraçadinho! Ninguém gosta de mim se perdi mulher, casa, seara, filhos e agora resta-me estar aqui nesta maldita reunião onde Deus e o Diabo bebem que se fartam num bar muito especial. Dir-vos-ia até arrepiante! Só de olhar para o seu nome dá-me vontade de chorar “Eterna saudade”, assim se chama o bar.

Aqui num local onde os mortos são vistos e revistos eu não teria a certeza de que estes dois “biltres” fossem capazes de urdir uma nova aposta.

Eu resisto à bebida para que a verdade não me salte da boca, pois porque a partir deste momento, só me resta uma única coisa: vingar-me daqueles que tornaram a minha vida num inferno! Delirante! Como é que o destino não podia ser mais irónico do que isto?

A Egiptomania em Portugal

Para explicarmos o fenómeno das “maldições” que estão presentes na história do cinema, basta recuarmos até ao ano de 1922, mais concretamente em Outubro dá-se a maior descoberta da humanidade (um século após a decifração da Pedra da Roseta por Jean-François Champollion): Descobre-se o túmulo de Tutankhamon.

Nesta história temos que procurar vários mosaicos, o primeiro leva-nos a encontrar no meio das areias do tempo duas personagens que ficarão para sempre ligadas a este momento: Howard Carter e Lord Carnavon. Nem um, nem outro são pessoas vulgares. Têm ambições, angústias que serão um dia referidas em ensaios, documentários e em romances de temática egiptológica – “O caso Tutankhamon”[1] e o “Egiptólogo”[2] -. Mas voltemos ao cerne da questão onde se encontram as duas personagens de charneira da nossa aventura pela demanda da egiptologia e daquilo que ela viria a desencadear no futuro. Após a abertura de uma das câmaras funerárias, alguns dos membros da equipa das escavações começam a adoecer. O que terá passado? Acordaram o espírito do faraó menino? Espoletaram a fúria dos deuses adormecidos? É que nesse período a imprensa começa a desenvolver uma série de teorias sobre as indisposições dos membros da equipa. Eis que o inesperado o acontece quando um dos membros dessa expedição adoece, designadamente um dos líderes da expedição arqueológica.

As pessoas e os jornais crêem que a maldição da múmia está bem próxima de cada um deles, pois os arqueólogos ao entrarem na câmara funerária terão desafiado as velhas maldições. Mas será mesmo isso?

Encontramo-nos diante desse túmulo e pela primeira vez desde milhares de anos é aberto... é claro que todas as consequências que se lhe seguem não são inocentes para uma imprensa na esperança de semear o “terror” e pouco informada.

Se alguém adoece misteriosamente pelo facto de entrar num local selado há milhares de anos não será por uma maldição ou praga lançada aos mesmos milhares de anos. O que a imprensa de então, e também os médicos não perceberam foi que aqueles homens estiveram num local que durante milhares de anos estivera fechado e ao ser aberto ao exterior libertou um conjunto de bactérias, vírus, poeiras e outros microrganismos...

Tal como se de um romance policial se tratasse coisas estranhas começam a acontecer... e os jornais é claro, não querem perder o mote, aumentando a desconfiança e a crendice!

É aqui que começam as histórias de maldições por terem afrontado o espírito e o túmulo do Faraó. Tinham o acordado; mas em pleno século XX, com o desenvolvimento da ciência, tendo já conhecimento das pesquisas de Loius Pasteur, será isto possível meus senhores?

Não, é claro que eles  não sabiam que a sala do túmulo havia adquirido  bactérias  e todo um outro conjunto de microorganismos que se tinham desenvolvido naquele espaço concreto e isolado do resto do mundo, e ao qual as pessoas  do mundo exterior  ficariam  vulneráveis ao entrar nele.

Mas todo este “segredo” só será desvendado muitos anos depois após a larga imaginação dos escritores e realizadores terem já semeado a desconfiança, a crendice e a fantasia.

Acreditamos que as múmias nem se quer sabiam que seriam um espectáculo rentável que levaria uma multidão de fãs a procurar a partir daí histórias fantásticas de seres do passado que confundiam arqueólogas com as suas bem amadas...

2. A decifração dos segredos

No fundo a descoberta da Sala de Tutankhamon vale pela excepcional beleza ao conter, pela primeira vez na história da arqueologia, um espólio completo de um Faraó que morreu muito novo. Esta talvez tenha sido a maior descoberta do século passado.

Mas nem tudo está desvendado porque as grandes questões  que nos surgem são outras, como por exemplo: Como conseguiram os egípcios construir  as pirâmides?

Um novo grupo de teorias vem à baila. Filmes, séries televisivas, livros, e pessoas ávidas de conhecimentos fora do comum procuram no Egipto o seu “Santo Graal “.

Não estamos em Avalon... nem sequer há vegetação semelhante que nos permita tais divagações, nem a gramática mitológica é idêntica. A culpa é normalmente dos realizadores de ficção científica que transformam os deuses em carrascos ou defendem, ainda, a tese de que as pirâmides foram construídas com o suor dos escravos ao som do chicote, ou então com ajuda extraterrestre.

Será mesmo verdade? Ou não estaremos nós num caminho entre a fé e o fantástico? São essas duas palavras que diferem de uma outra: Ciência.

Para  podermos explicar  o fenómeno extraterrestre teremos  que  procurar as raízes da religião egípcia.  Um Faraó é um ser divino que ascende aos céus daí as pirâmides como que apontarem para os céus a sua construção imortalizou um arquitecto: Himnopteh.

Este arquitecto nem sequer tem orelhas grandes, nem sequer é verde ou vermelho. É antes de mais um arquitecto da terceira dinastia que realiza uma das maiores obras de arquitectura que ficará para a posteridade.

Para além disso o Faraó não era um homem comum aos olhos dos seus contemporâneos. Após a sua morte, subia ao céu e juntar-se-ia na barca solar aos deuses das épocas míticas da formação da terra do Nilo, o reino do Alto e do Baixo Egipto. E os escravos? Quem são afinal?

Nos últimos 20 anos a arqueologia trouxe uma outra visão destes pobrezinhos que ainda ouvimos nas salas da catequese ou nos apodrecidos manuais de liceu cujos docentes de então não conheciam a palavra egiptologia .

A cadeira Civilizações Pré-Clássicas era o bicho papão universitário e era entregue como espécie de susto aos professores assistentes na emergente peripécia da sua nova vida...

Passamos então a explicar quem era afinal o grupo que estava nas pedreiras. Era constituído por indivíduos que trabalhavam por que as terras se encontravam inundadas. Ou seja mão-de-obra agrícola que no período natural de fertilização dos solos – de Junho a Setembro – estavam sem trabalham.

Mais recentemente chegou-se à conclusão de que eram homens muito bem pagos e que tinham  cuidados médicos ... Caiu assim por terra  a tese  de que  estávamos  habituados da escravidão a chicote...

 Tudo não passava de uma forma de contabilizar o número de homens e mulheres que durante o período das chuvas não trabalham os solos mas não se queriam inactivos numa sociedade próspera.

Além do facto de considerarem um momento único o poderem trabalhar para o deus em que acreditavam, o seu Faraó que regia toda a vida e que era a reencarnação do deus Horus.

Como explicar agora os fenómenos de maldição e do regresso morto à terra?

As séries ou os filmes que nos habituaram a ver dão-nos uma ideia de seres terríveis sedentos de sangue ou que por um azar ainda não tiveram uma cerimónia fúnebre apropriada. O que de uma certa forma até poderia condizer com a boa maneira egípcia... mas não exageremos.

É que os mortos do Antigo Egipto tinham uma vida semelhante aos vivos e daí as imagens que vemos nos túmulos são claramente esse universo. Levavam os seus bens e naturalmente os alimentos que deviam estar sempre frescos para continuarem a sua vida no Além.

É que aqui a morte não tem as mesmas cores com que nós a pintamos, mas sim com um pássaro que desaparece e que volta mais tarde para reconhecer o corpo.

 Se o morto não fosse preparado o pássaro não o reconheceria e passaria imediatamente a uma espécie de jogo de glória, segundo o qual o corpo teria que passar por um tribunal (onde estariam cerca de 42 juízes e aí o morto deveria fazer  a sua auto-defesa .  O morto devia fazer-se acompanhar  por uma espécie de “Código Civil “ – O livro dos mortos  e recitar  respectivo capítulo  125.

O morto devia clamar a sua inocência. A nossa dúvida centra-se precisamente nesta questão “Como é que o morto conseguia sobreviver?”.

Para tal os sacerdotes deviam proceder ao ritual da abertura da boca, o que lhe daria a vida eterna.

Quando vemos o filme “A múmia”, não se pode aceitar de ânimo leve que o escaravelho seja o símbolo da destruição, o realizador não terá lido alguns catálogos de exposições ou ensaios que explicam que o escaravelho é posto junto do coração do morto após o processo da mumificação. Pois este senhor realizador conhecer os últimos avanços da Egiptologia portuguesa[3], nomeadamente a Tese de Rogério Ferreira de Sousa[4].

Lendo Ferreira de Sousa compreendemos que o escaravelho é o símbolo da ressurreição daí ser posto junto do coração do morto. Até ao amanhecer o Sol representa o escaravelho que renova a vida e traz uma nova luz sobre a vida eterna.

3 . E a ficção científica, onde fica?

Abordemos algumas teses sobre a construção das pirâmides, mas elas também foram objecto de tema por parte de alguns realizadores cinematográficos e autores científicos.

Em 2001 uma revista científica de grande divulgação em França falava deste assunto, mas é sobretudo na televisão e no cinema que esse a construção das pirâmides nos propõe um olhar para um universo fantástico.

No filme em questão que daria origem a uma série de televisão, um egiptólogo  afirmava de  os deuses egípcios  escravizaram uma parte da população egípcia. Ele tinha uma prova que demonstra tudo o que afirmava: a máquina do tempo!

Algo que faria maravilhas a qualquer historiador para provar a sua tese...

 Imagine-se levar um júri académico e o seu público a determinado local e época remotos.

Este não será de facto um tema a levar em conta e que nos faz recordar os tempos de estudantes em que colegas mais ousados questionavam o professor sobre estas matérias. Ao que o professor argumentava se não se enganaram na licenciatura que estavam a tirar. Não estariam mais vocacionados para as Línguas e Literaturas Modernas? Talvez tivesse tido essa sorte Enki Bilal, o autor que falámos no início.

 Não terá seguido o conselho do seu mestre e terá  escrito uma banda desenhada intitulada “A feira dos imortais”, “A mulher armadilha” e “O frio polar” que dariam em 2004 origem ao filme “O imortal”

A história não contém especialistas envolvidos em matérias anteriormente debatidas, mas sim, passa-se num futuro que traz à tona uma lenda da V dinastia que seria aproveitada no período intermediário para sustentáculo do poder.

Na história em questão O IMORTAL, o deus Horus, necessita de procriar para escapar à morte. A história não fica por aqui e já nos mostra uma perseguição policial, uma intriga política e as rivalidades entre os deuses e deusas. Para além disso, surge uma mulher que convém a Horus que seja a aquela de quem virá a ter um filho, e para tal cópula precisa de um corpo humano... A história passa-se em Nova Iorque, com mafiosos, egiptólogos e deuses que falam em egípcio antigo. Lá faltavam eles para nos auxiliar já que Horus concebe o filho num corpo–hóspede. Pelo sim pelo não, vale apenas passar pela Avenida de Berna para ver o falcão que protege o fundador da instituição que lhe dá o nome. Quem sabe se não sentimos uma bicada deste animal sagrado?

Afinal a história da ficção científica acompanha a ciência num universo que não a compreende, mas basta ter um olhar crítico para sabermos aquilo em que tomamos como verdade. Porque a verdade como disse alguém, “é menos interessante que a imaginação”. Afinal nem somos assim tão diferentes dos extra-terrestres que construíram as pirâmides.

Alguém dúvida?



[1] Cfa Christian Jacq,  O Caso Tutankamon , Ed. Bertrand , 1995, 4 ª ed. (trad. de Maria  Carlota  Àlvares  da Guerra )
[2] Cfa  Artur Philips , O Egiptólogo, Gótica , 2005
[3] Cfra Luís Manuel  Araújo “ Um escaravelho  do coração  numa colecção privada  portuguesa “ , in Museu , nº9(2000), (IVª série , pp 7-27  )
[4] Cfra  Rogério de Ferreira de Sousa , A simbólica do Coração , Dissertação de doutoramento em História e Cultura Pré – Clássica ; Faculdade de Letras  da Universidade do Porto

Te invito una sonrisa por Francisco José Covarrubias Mojarro*

Te invito una sonrisa
asemejando los cuernos de la luna
una nota de alegria
que baje y suba como si tuviera vida

mirando de frente y sin rumbo
dejando al aire tus manos y pensamientos
tus manos libres de sentir
tus pensamientos libres de existir

una sonrisa que no sea instantanea
que sea eterna y simple como la libertad
y asi como si hubiese visto un fantasma
la idea de tu sonrisa siempre se quedara

Te invito una sonrisa,
una gota de alegria,
solo una, la ultima, la primera
y luego, luego veras la mia


*Por: Francisco Jose Covarrubias Mojarro


Nota editorial:
Francisco Jose Covarrubias Mojarro é natural de Guadalajara (Jalisco, México), onde nasceu em 1990. 
É Licenciado en Administración Financiera y Sistemas, pelo CUCEA, da Universidad de Guadalajara e frequenta o "Diplomado en Fisioterapia Deportiva", na Universidad Autónoma de Guadalajara.

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